A primeira vez em que vi a poltrona Suave fiquei encantada com a leveza da peça. Foi aí que conheci o trabalho da artista, que, como poucas, consegue trabalhar com a madeira a seu favor aproveitando suas formas orgânicas para muito além da utilidade diária.
Estou bem contente em postar esta entrevista. Espero que aproveitem tb, o trabalho dela é incrível.
CV: Como foi para uma arquiteta começar a trabalhar com movelaria? Além da sua formação na FAU o que mais contribuiu para seu trabalho atual?
JK: Minha infância foi carregada de atividades criativas e artísticas, graças a meus pais, à liberdade e incentivo que nos davam dentro desta área. Na FAU a disciplina de desenho industrial era ministrada ao longo dos 5 anos, e especificamente no 3º ano tínhamos que elaborar e produzir em escala 1:1 uma cadeira para restaurantes ou bares, com o suporte da marcenaria existente na faculdade. A partir desta experiência decidi que meu caminho seria o trabalho com madeira para a criação de mobiliário. Fiz paralelamente cursos de maquetes e de marcenaria que me ajudaram a entender melhor a área, e depois de me formar me organizei para montar minha própria marcenaria, que tenho desde 2000.
CV: Todo seu trabalho envolve uma escolha minuciosa da matéria prima e zela pelo manejo sustentável. Você percebe que o mercado já valoriza essas escolhas ou acaba sendo uma prática particular do artista?
JK: As pessoas estão cada vez mais conscientes da necessidade de se cuidar com mais atenção das questões ambientais em geral, e hoje fica mais fácil fazê-las entenderem da importância do manejo sustentável para a produção em madeira. Esse trabalho vem melhorando e ainda é difícil o acesso às madeiras ecologicamente corretas, mas tenho certeza de que vale a pena me manter firme neste propósito, de trabalhar com consciência e respeito pelas florestas, com um produto que é renovável e que pode existir para sempre se soubermos fazer a nossa parte.
CV: Em uma entrevista o Morito Ebine comenta uma passagem curiosa "Fui ao apartamento de um cliente para ver o lugar onde ficaria o móvel que ele tinha encomendado. Estava indo pela entrada principal, mas, quando falei que era marceneiro, o porteiro me disse para subir pela de serviço". Paralelamente a isso, você expõe suas peças em galerias no exterior. Acreditando que o artista deva ser um artesão, dominando o processo artesanal na confecção de sua arte, e o mesmo ocorre com a movelaria, onde o designer também deve dominar a arte da marcenaria. A que vc atribui esta diferenciação que ainda encontramos no Brasil entre a arte e movelaria?
JK: O trabalho do artesão em geral é muito desvalorizado no Brasil, diferentemente de outros países, onde a escassez de profissionais hábeis manualmente os transformou em pessoas especialmente admiradas e respeitadas. Aqui ainda vale o título, ou seja, se eu digo que sou designer, ok, sou valorizada, e até existe um certo “charme” criado em cima da história de uma pessoa de nível universitário decidir trabalhar com as mãos, na marcenaria, principalmente sendo mulher. Mas o marceneiro não tem o mesmo status, pois a imagem por trás é da pessoa de formação mais básica, que por não ter tanto estudo acabou optando por este ofício, assim como poderia ter se tornado pedreiro, encanador, eletricista etc.
Todo ofício para mim é tão importante e belo quanto a formação acadêmica, não consigo aceitar essa forma de pensar, mas sinto que essa é uma discussão muito extensa que nos remete à questão do Brasil como país colonizado, do hábito de “ser servido” que temos enraizado em nossa sociedade, e tudo isso acaba nos tornando segregadores e desconhecedores de muitas atividades nobres das quais poderíamos estar participando diretamente.
Contato: www.juliakrantz.com.br
Olá Lucila. Sempre passo pelo blog. Está cada dia mais interessante. Conteúdo bacana e entrevistas melhores ainda. Adorei a conversa com a Julia Krantz. São obras de arte, não? Parabéns!
ResponderExcluirparabéns pela entrevista. Ela é excelente design
ResponderExcluirbjks
Lucila, amei a entrevista com a Julia! Também me apaixonei pela poltrona suave e pelo banco bigorna à primeira vista! A artista consegue fazer com que um material bruto como a madeira ganhe uma suavidade e leveza únicas. Eu sou formada em Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual. Na época da faculdade, não me interessei por Projeto de Produto, mas hoje vejo o quão interessante e diversificada é essa área. Obrigada pelo presente que foi essa entrevista hoje!!!
ResponderExcluirJà tinha visto os móveis dela, mas agora me encantei.
ResponderExcluirMas de todos fico com a cadeira da primeira foto.
Bjs, Ana
http://utilnecessario.blogspot.com/
Eu acho que vimos esse banco em uma casa cor em SP há muitos anos atras....lindas as peças....
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